(Este texto é o capítulo 2 do livro Meditação Taoísta, de Thomas Cleary (comp.), editado pela Editora Teosófica, Brasília-DF, 2001).
O que as pessoas valorizam é a vida; o que a vida valoriza é o Caminho. Quando as pessoas têm o Caminho, são como peixes dentro da água. Numa poça quase seca um peixe ainda procura um pouco de água, mas as pessoas mundanas, debilitadas e morrendo, nem assim têm o bom senso de buscar o Caminho.
Quão contraditório é rejeitar as dores da vida e da morte e mesmo assim gostar dos trabalhos da vida e da morte; e respeitar nominalmente o Caminho e a virtude mas rejeitar a prática do Caminho e da virtude!
Quando as pessoas estão num impasse, elas tentam resolvê-lo; quando perdidas, pensam em retornar. Cada momento da vida é como uma pedra preciosa; a vergonha e o assombro intensificam um ao outro. Assim, tenho buscado com gratidão as doutrinas dos clássicos e resumi sete assuntos referentes aos ensinamentos da mente, para que sirvam como um auxílio fundamental no processo de cultivar o Caminho.
Fé séria
A fé é a raiz do Caminho, a seriedade é a haste da virtude. Quando a raiz é profunda, o caminho pode crescer; quando a haste é firme, a virtude pode florescer.
Um homem que presenteou um rei com uma jóia teve os seus pés cortados como punição, porque o rei não reconheceu o valor da jóia em seu estojo; alguém que se pronunciou para salvar a nação foi executado por isso.
A lição é que, quando o que é material e os meios chamam a atenção, a mente se torna confusa; quando os princípios e os fenômenos aparecem, o pensamento se torna confuso.
Vendo como o Caminho supremo transcende forma e sabor, e como a verdadeira essência está afastada dos objetos do desejo, como poderemos entender e acreditar no sutil e no rarefeito, ou ouvir falar daquilo que não tem imagem, sem ficarmos confusos?
Quando as pessoas ouvem falar sobre sentar e esquecer, se acreditarem que isto é essencial para a prática do Caminho, se respeitarem a idéia, não tiverem dúvidas e puserem-na em prática, certamente alcançarão o Caminho.
Por isso disse Chuang-tzu: “Mortificar o corpo, desprezar a inteligência, afastar-se da forma, abandonar o conhecimento, deixar-se assimilar pelo que tudo permeia - isto se chama sentar e esquecer.”
Quando você se senta e esquece, o que não é esquecido? Internamente você não nota seu próprio corpo; externamente você não se dá conta do universo. À medida que você se une misticamente com o Caminho, desaparecem as miríades de cogitações.
Quando Chuang-tzu fala “daquilo que permeia todas as coisas” as palavras são superficiais, mas o sentido é profundo. As pessoas confusas as escutam sem acreditar - elas têm um tesouro em seus corações e mesmo assim procuram jóias externas. O que se pode fazer por elas?
Diz a escritura: “Há descrença quando a fé é insuficiente.” Isto quer dizer que quando a fé no Caminho for insuficiente, seremos atingidos pela calamidade da descrença. Como poderemos então almejar o Caminho?
Eliminar os envolvimentos
Eliminar os envolvimentos significa desapegar-se da confusão das preocupações mundanas artificiais. Abandone as preocupações e seu corpo não estará sob tensão; não force nada e sua mente estará naturalmente calma.
Quando a serenidade e a simplicidade evoluem dia a dia, a decadência mundana diminui a cada dia.
Quando seu comportamento se distancia mais e mais do mundano, sua mente se volta mais e mais para o Caminho.
Qual dos sábios e santos não chegou ao Caminho por esta estrada? Diz o clássico: “Feche seus olhos, cerre suas portas e você não labutará toda sua vida.”
Há os que fazem demonstração de virtude e habilidade, buscando pessoas que os patrocinem.
Há os que viajam muito fazendo visitas, assistindo celebrações e funerais.
Há os que fingem ser ermitãos, mas em seus corações desejam promoção e progresso.
Há os que convidam para beber e comer com esperança de favores futuros.
Os que agem desta maneira estão astutamente escondendo maquinações mentais com o propósito de lucro.
Como isto não está de acordo com o Caminho e impede profundamente a prática adequada, um comportamento como este deve ser evitado. Diz o clássico: “Abra seus olhos (1), cumpra suas obrigações e você não será salvo em toda sua vida.”
Enquanto não iniciamos nada, os outros naturalmente não estarão envolvidos; e mesmo que outros iniciem algo, não nos envolveremos.
À medida que os envolvimentos passados desaparecem naturalmente, não crie novos envolvimentos. Eventos sociais e contatos oportunistas tornam-se raros e você fica aliviado e em paz.
Só então você poderá praticar o Caminho.
Disse Chuang-tzu: “Não peça nem espere, não tenha sentimentos em relação ao contato artificial com o mundano.”
Ele também disse: “Não viva cheio de planos, não fique sobrecarregado por preocupações, não seja controlado por cargos.”
Se algo não pode ser negligenciado, então faça-o como algo inevitável. Não fique fascinado, com a mente fixada ali, de modo que o fato se torne um hábito.
Concentrar a mente
A mente é a senhora de todo o corpo, a capitã de todo sistema nervoso. Quando está calma, tem inspirações, quando agitada, fica insensível.
Quem dirá que a verdade é correta, enquanto vaga alegremente nos estados ilusórios? Quem dirá que a vaidade está errada, enquanto vive complacentemente na artificialidade?
A confusão e a ignorância da mente provêm do terreno em que ela se apóia. Mesmo quando você escolhe um lugar para viver, a intenção é melhorar o comportamento adaptando-se às redondezas. Quando você é seletivo em sua escolha de amigos, isto é porque você valoriza o potencial de benefícios positivos. Muito mais será valorizado quando se desapegar do reino de nascimento e morte para viver no supremo Caminho - como, então, não abandonar o primeiro para atingir o último?
Portanto, quando você começa a estudar o Caminho, é necessário sentar calmamente, concentrar a mente, afastar-se dos objetos e estabelecer-se no nada. Estabelecendo-se no nada você não ficará obcecado com coisa alguma; assim espontaneamente atingirá um estado mental de não-resistência e se fundirá com o Caminho.
Diz uma escritura: “No Caminho supremo está o silencioso nada, com incomparáveis funções espirituais. A substância da mente também é assim.”
A fonte da substância da mente é o próprio Caminho; mas porque o espírito mental está sujeito a influências, sua escuridão gradualmente se aprofunda. Depois de fluir em ondas por muito tempo, finalmente a mente se separa do Caminho.
Quando você elimina a poluição da mente e se abre para o espírito consciente, isto é chamado de cultivar o Caminho. Quando não mais fluir em ondas, mas fundir-se com o Caminho e permanecer no Caminho, isto se chama retornar à fonte.
Manter-se na fonte é chamado de calma estabilidade. Depois de muito tempo de calma estabilidade, dissolvem-se as doenças e a vida é restaurada. Ela é restaurada e prolongada, e você atinge espontaneamente o conhecimento do eterno. Por causa do conhecimento, não há obscurecimento; no eterno não há mudanças nem extinção. Na verdade, origina-se nisto a saída do nascimento e da morte. Portanto, para estabelecer a mente no Caminho da verdade é importante não estar fixado em nada.
A escritura diz: “As coisas florescem, depois cada uma delas retorna à sua fonte. Retornar à fonte chama-se calma. A calma chama-se restaurar a vida. Restaurar a vida chama-se constância; conhecer o que é constante chama-se clareza.” Se tomar a mente e a mantiver no vazio, isto se chama ter um objetivo; não é chamado de não ter objetivo. Sempre que der ênfase a um objeto, ele fará a mente trabalhar; isto não somente é irracional, mas até causa doença.
Enquanto a mente não se agarrar às coisas e você puder ficar imóvel, esta é a base correta para uma estabilidade autêntica. Se você estabilizar a mente desta maneira, seu estado de espírito se tornará harmonioso; e quanto mais tempo fizer isto, mais leve e renovado se sentirá. Se usar isto como teste, a diferença entre o erro e a verdade se tornará evidente.
Se você extinguir a mente sempre que ela despertar, sem distinguir o certo do errado, você cancelará permanentemente a atenção e entrará num transe cego. Se apenas deixar sua mente despertar sem concentrá-la ou controlá-la, você não será diferente de qualquer mortal comum.
Os que simplesmente imobilizam a mente, no bem ou no mal, sem qualquer direção, deixando suas idéias fluírem e vagarem, e esperando que se acomodem, estão enganando a si mesmos inutilmente.
Os que fazem todo tipo de coisas, dizendo que suas mentes não são afetadas, falam muito bem mas sua atitude está muito errada. Os estudantes autênticos devem ser particularmente cuidadosos com isto.
Portanto, impeça a confusão sem extinguir a atenção; mantenha a calma sem agarrar-se ao vazio. Pratique isto regularmente e você obterá naturalmente a verdadeira visão. Se houver assuntos correntes ou essenciais do ensinamento sobre os quais você tenha dúvidas, poderá pensar neles para esclarecê-los e assim poderá compreender o que o intrigou. Esta também é uma base adequada para desenvolver a sabedoria.
Quando você tiver compreendido, não pense mais. Se continuar pensando, arruinará sua serenidade com sua inteligência - você “diminuirá o capital beneficiando-se dos juros”. Mesmo que tenha um esplendor temporário, não chegará a uma realização duradoura.
Simplificando as coisas
No decorrer da vida humana é inevitável a experiência das coisas. As coisas são múltiplas, e não dependem apenas de uma pessoa.
Um pássaro que faz o ninho num ramo da floresta estaria perdido num poleiro coletivo; um animal que enche seu estômago bebendo no rio não vai procurar o oceano.
Descobrindo aquilo que lhe diz respeito nas coisas externas e compreendendo-o em si mesmo, você compreenderá que tem o que lhe cabe na vida e não lutará pelo que não lhe diz respeito. Você cuida do que é adequado e não assume coisas que não são adequadas.
Se assumir coisas que não são adequadas, estará danificando seu poder intelectual. Se lutar pelo que não está ao seu alcance, cansará seu corpo. Se estiver psicológica e fisicamente desconfortável, como poderá chegar ao Caminho?
Por esta razão, nada é melhor para os que cultivam o Caminho do que simplificar decididamente as coisas. Perceba as que são ou não essenciais, avalie as que são importantes ou triviais, considere se as elimina ou as aceita. Tudo o que não for essencial e importante deve ser abandonado.
Isto é semelhante ao que ocorre quando pessoas consomem vinho e carne, vestem-se com seda, gostam de fama e prestígio, possuem ouro e jóias. Tudo isto são desejos pessoais excessivos e subjetivos, e não são bons remédios para melhorar a vida. As massas buscam estas coisas, produzindo sua própria ruína ou sua morte. Se refletirmos calmamente sobre isto, veremos quão confusas estão estas pessoas.
Chuang-tzu disse: “Os que chegam à verdade da vida não lutam por nada que não diga respeito à vida.” O que não diz respeito à vida é qualquer excesso. Alimento simples e roupas velhas são suficientes para cuidar da vida essencial; por que usar bebidas, carne e seda com a intenção de que assim sua vida esteja completa?
Deste modo, tudo que não seja necessário à vida deve ser eliminado, bem como tudo que for excessivo e estiver além das necessidades da vida. As posses têm uma energia prejudicial, que fere quem as acumula. Mesmo se tiver poucas coisas, você se preocupará com elas; e tanto mais se possuir muitas.
Você será ridicularizado se quiser caçar um pardal atirando uma jóia nele; muito mais ridículo é voltar as costas para o Caminho e para a virtude, desprezar a natureza e a vida, e encurtar seu período de vida buscando o que não é essencial!
Se compararmos fama e prestígio ao Caminho e à virtude, a fama e o prestígio são artificiais e inferiores, enquanto que o Caminho e a virtude são nobres e reais. Se puder distinguir o nobre do inferior, desprezará um e escolherá o outro, não ferirá seu corpo em benefício da fama, nem mudará sua vontade em favor do prestígio. Chuang-tzu ensinou: “Não é um cavalheiro aquele que se perde buscando fama.”
Diz a Escritura sobre a Ascensão Ocidental: “Aceite o fundamental, mantenha a unidade.” Os buscadores da imortalidade espiritual que chegam ao excesso não podem manter a unidade; apenas se situam em posições gloriosas. Se você não for seletivo, tudo com que se encontrar sobrecarregará sua mente e embotará sua inteligência; e sua prática do Caminho será deficitária.
Os que tratam dos assuntos calma e serenamente, que estão no meio das coisas sem se perturbarem, estes atingiram a compreensão. Você estará apenas enganando a si mesmo se disser que está livre sem realmente ter atingido este estado.
A visão verdadeira
A visão verdadeira é a previsão dos sábios, a perspicácia dos capacitados, é o descobrir que calamidade ou boa sorte podem chegar, é compreender se a ação ou a quietude são ou não são auspiciosas.
Quando você pode ver o potencial antes de um acontecimento ser engatilhado e assim agir adequadamente, vigiando seus próprios passos com muita cautela, discretamente trabalhando para preservar sua vida, do começo ao fim não criando problemas com sua conduta, nem tendo conduta oposta à razão, isto se chama de verdadeira visão.
Comer e dormir podem ser ambos danosos ou benéficos; cada ato e cada palavra podem ser uma fonte de calamidade ou de ventura. Mesmo se puder manejar os ramos com habilidade, isto não é tão eficaz quanto corrigir a raiz com força. Vendo a raiz, trate dos ramos, mas sem competição.
Assim, concentre sua mente, simplifique seus assuntos e reduza dia a dia a artificialidade. Quando expressar quietude e sua mente estiver livre, somente então poderá ver o sutil. Dizem os clássicos: “Esteja sempre livre de desejos para poder ver o sutil.”
Contudo, o corpo com o qual você cultiva o Caminho necessita de roupas e de alimento. Há certas coisas que você não pode dispensar; aceite isto com um coração vazio, assuma a responsabilidade disso com uma visão clara. Não diga que isto bloqueará sua mente e criará aborrecimento e excitação; os que se aborrecem e se excitam com as coisas já têm aflições ativas na mente - como isto poderá ser chamado de pacificar a mente?
As relações humanas, as roupas e os alimentos são nossos barcos; se você quiser cruzar o mar, use um barco. Quando tiver cruzado o mar, logicamente você não ficará no barco. Mas por que abandonaria o barco antes de cruzar o mar? Realmente não vale a pena trabalhar pelas vaidades relativas a alimento e roupas, mas buscamos alimento e roupas para ir além da vaidade.
Embora você trabalhe para atender suas necessidades, não alimente pensamentos de ganho e perda; assim, haja ou não algo a fazer, sua mente estará sempre em paz. Você buscará como os outros mas não tão avidamente como buscam os outros. Você ganhará como os outros mas não acumulará tanto quanto os outros. Quando não é ganancioso, você não fica ansioso; quando não acumula bens, não perde nada. Sua aparência externa será como a dos outros, mas sua mente será sempre diferente da mente das pessoas mundanas. Esta é a essência da verdadeira prática; e você deve fazer um esforço para aplicá-la.
Se os problemas persistirem mesmo após ter eliminado as complicações e simplificado suas obrigações, veja-os com objetividade. Se estiver profundamente angustiado com a sexualidade, deve aceitar então que a dependência do sexo origina-se em seus pensamentos; se estes pensamentos não surgirem, não haverá sexo. Assim reconhecerá que seus pensamentos sexuais são externamente vazios, enquanto a idéia de sexo é uma imaginação interna. A mente imaginosa é vazia; assim, quem é o sujeito da sexualidade?
Dizem as escrituras: “Os objetos sexuais são apenas fantasias mentais; já que as imagens mentais são todas vazias, como poderá haver objetos sexuais?”
Pense também em como as belas mulheres são mais perigosas do que as fadas rabugentas. As fadas rabugentas atraem os homens e provocam-lhes aversão, para que, mesmo em perigo mortal, eles não tomem maus caminhos. Por causa desta aversão eles evitam para sempre a promiscuidade. As mulheres belas fascinam os homens de modo que eles ficam transtornados e cada vez mais apegados, mesmo que isto os leve à morte. Devido aos pensamentos errados, quando eles morrem entram em vários estados e renascem no inferno. Dizem as escrituras: “Nesta vida vocês quiseram tornar-se marido e esposa, mas após a morte não poderão viver juntos.”
Por que é assim o caminho da vida humana? Devido aos falsos pensamentos.
Também pense nisto: se a beleza física é sempre atraente, por que, quando vêem um ser humano, mesmo que seja uma bela mulher, os peixes mergulham e os pássaros voam? Os magos consideram a beleza física como lixo e lama; os sábios a comparam a uma espada ou a um machado.
Se não comer durante sete dias você poderá morrer, mas se não tiver relações sexuais durante cem anos você evitará a morte prematura. Portanto sabemos que o sexo não é essencial ao corpo nem à mente, mas é um inimigo da essência e da vida. Por que ter obsessão pelo sexo, e deste modo atrair destruição para você mesmo?
Quando você vê os outros agindo mal e sente aversão e desprezo, isto é como tomar a faca de alguém que estivesse para se matar e com ela você mesmo cometesse suicídio. É o outro que age mal, ele não o está compelindo; por que então assumir os erros dos outros, transformando-os em sua própria enfermidade?
Além disto, se achar detestáveis os que agem mal, então também devem ser desdenhados os que agem bem. Por quê? Porque ambos obstruem o Caminho.
Se você é pobre, deve observar este fato cuidadosamente. Quem lhe deu a pobreza? O céu e a terra dão cobertura e apoio imparcialmente; sua pobreza atual não se deve ao céu ou à terra. Quando pais e mães têm filhos, querem torná-los ricos e respeitados; portanto sua pobreza e baixa condição atual não se devem a seu pai ou a sua mãe. As pessoas, as almas e os espíritos não têm tempo livre nem sequer para se salvar; como poderiam então infligir-lhe a pobreza? Prossiga este exame tanto na atividade como no descanso e descobrirá que a pobreza provém apenas de sua própria ação.
Então conhecerá a ordem do céu. A ação é feita por você, a vida é concedida pelo céu. A relação da ação com a vida é como uma sombra que segue a forma ou um eco que segue o som; não pode ser evitada e não deve ser rejeitada. Só os sábios podem compreender isto; satisfeitos com o céu, reconhecendo a ordem celestial, eles não têm preocupações; assim, como é que a pobreza poderia perturbá-los?
Disse Chuang-tzu: “A ação entra mas não deve ser mantida.” É devido à sua própria ação que você sofre com a pobreza; embora ela tenha vindo, não deverá ser mantida. Dizem os textos: “O céu e a terra não podem mudar a conduta de alguém, o yin e o yang não podem desviar suas ações.” Falando nestes termos, este é o verdadeiro destino, não algo artificial; então o que há para rejeitar?
Quando um guerreiro corajoso encontra bandidos, ele não os teme; desembainha sua espada e vai em frente, enquanto os bandidos se espalham. Quando esta conduta se estabelece, sua glória e recompensa continuam por toda sua vida. Ora, se a pobreza e a doença afligem nossos corpos, são como bandidos. Se tivermos uma mente calma, ela será o guerreiro corajoso; um exame inteligente é o ato de desembainhar da espada; a dissolução de nossas dores e problemas é a vitória na guerra. A paz e a felicidade perenes são a glória e a recompensa.
Sempre que a infelicidade oprimir nossas mentes, se não fizermos esta observação, mas ficarmos ansiosos e sobrecarregados, a situação faz lembrar aqueles que encontram bandidos e não agem bem, jogam fora a armadura, abandonam as tropas e debandam. Fazendo a coisa errada, trocam a felicidade pelo sofrimento - isto não é lamentável?
Se estivermos sofrendo de uma enfermidade, devemos notar que ela se origina do fato de termos o nosso próprio corpo. Se não tivéssemos o corpo, onde estaria a doença? Diz o Tao Te Ching: “Se não tivesse um corpo, que aflições eu poderia ter?”
Em seguida, observe que a mente não tem um dono real. Procurando externa e internamente, não encontrará o observador; todas as suposições originam-se na mente dispersiva.
Assim, se você acalmar o corpo e aquietar a mente, uma miríade de doenças se desvanecerá.
Se você teme a morte, deve pensar que seu corpo é a morada do espírito; a deterioração física no final da velhice mostra algo como uma casa deteriorada que não é mais adequada para habitar. Será preciso abandonar a casa e achar outro lugar para nosso repouso.
Isto é o que acontece quando o espírito vai enquanto o corpo morre: se você agarrar-se à vida e rejeitar a morte, tentando evitar a mudança, a consciência de seu espírito se tornará confusa e não funcionará corretamente. Por isto, quando for energizado ao renascer, não sentirá a boa e clara energia, e na maioria das vezes encontrará uma energia pesada e poluída. Na realidade toda insensatez, ganância e baixeza têm origem nisto.
Se conseguir desapegar-se em relação à vida e ficar imperturbável em relação à morte, colocará a vida e a morte em seus devidos lugares e também se preparará para o pós-morte. Se desejar todo tipo de coisas, cada desejo produzirá uma doença. Mesmo quando apenas um membro sofre, ele torna todo corpo desconfortável; assim, se houver uma miríade de dores na mente, de que modo você, mesmo querendo, poderá prolongar sua vida?
Todo desejo ou ódio é um esquecimento da vida. Quando as ilusões acumuladas não são desfeitas, elas interferem na percepção do Caminho. Por isso precisamos abandonar os desejos e permanecer no nada, para que tenhamos uma base para um esclarecimento gradual. Se depois disto olharmos para nossos antigos desejos, naturalmente os acharemos desprezíveis.
Se olharmos os objetos com a mente absorta em objetos, nunca saberemos que há algo errado. Se olharmos os objetos com a mente desapegada deles, só então seremos capazes de ver com perfeita clareza o que são e o que não são. Por exemplo, um homem sóbrio pode ver os erros de um bêbado, mas se ele próprio estiver bêbado, não estará cônscio de seus próprios erros.
Diz uma escritura: “Basicamente, eu abandono o profano e desdenho o mundano.” Ela diz, também: “Os ouvidos e os olhos, o som e a forma o atormentam; os cheiros e os sabores sentidos pelo nariz e pela boca são seus inimigos.” O velho mestre desprezava o mundo, abandonava o profano, e só ele via que cheiros e sabores eram seus inimigos - como poderiam, os que cedem aos desejos, compreender que “as bancas de peixe têm mau cheiro?”
Tranqüila estabilidade
A estabilidade é o estágio final da fuga do profano, a base para atingir o Caminho, a realização do silêncio cultivado, a completa manutenção da calma.
Quando o corpo é como uma árvore seca e a mente como cinzas frias, sem reação, sem buscar nada, esta é a síntese da tranqüilidade. Não há preocupação com a estabilidade; assim não há instabilidade. Isso é chamado de tranqüila estabilidade.
Disse Chuang-tzu: “Aquele cuja situação é de tranqüila estabilidade irradia uma luz natural.” A palavra “situação” refere-se à mente; “luz natural” é a inspiração ativa. A mente é o condutor do Caminho; quando ela estiver completamente esclarecida e calma, o Caminho permanece presente e a inspiração emergirá.
A percepção interior vem da natureza original; ninguém a obtém. Por isso ela é chamada de luz natural. É apenas devido à desordenada confusão causada pelos desejos que a percepção se torna obscura. Limpe-a, torne-a flexível, retifique-a e recupere-a para a pureza e a calma, e o verdadeiro espírito original consciente gradualmente se tornará claro por si mesmo; isto não significa que você esteja produzindo neste momento esta percepção interior.
Quando a percepção interior surgir, guarde-a e não comprometa a estabilidade com preocupações demasiadas. Não é difícil ter inspiração; mas é difícil ter inspiração e não utilizá-la. Desde a antigüidade houve pessoas que esqueceram seus corpos mas poucos esqueceram suas reputações. Ter percepção interior mas não utilizá-la é esquecer a reputação; poucos no mundo atingem isto, por este motivo é considerado difícil.
O nobre que não ficar exaltado e o rico que não for extravagante podem manter suas nobrezas e riquezas porque não são excessivamente mundanos. Os que são imperturbavelmente estáveis e inspirados sem explorar este fato podem compreender profundamente a verdadeira eternidade, porque não são exagerados em matéria de religião. Disse Chuang-tzu: “É fácil conhecer o Caminho; é difícil não falar dele.”
Saber e não falar é a maneira de chegar ao céu. Saber e falar é a maneira de chegar à condição humanitária. As pessoas de antigamente eram divinas, não humanitárias.
A percepção interior pode saber sobre o Caminho, mas isto não é atingir o Caminho. As pessoas podem saber das vantagens de ter inspiração sem compreender os benefícios de atingir o Caminho. “Use a percepção interior para esclarecer o princípio último, empregue a eloqüência para tocar os sentimentos das pessoas e despertar seus corações, alimentando-os no decorrer dos acontecimentos e entrando em contato com outros. Se você só falar de calma constante, enquanto está em atividade, como poderá saber que a calma é uma questão de estar calmo para poder lidar com as pessoas?” As palavras não expressam a tranqüila estabilidade. Ainda que você seja intelectualmente notável, isto só o levará para mais longe do Caminho. Talvez você quisesse caçar um veado, mas voltou para casa com um coelho. O que você conseguiu foi muito menos, porque teve uma mente estreita.
Disse Chuang-tzu: “Antigamente, os que conheciam o Caminho nutriam a sabedoria através da serenidade. A sabedoria aumentava, mas eles não a usavam para manipular nada.” Isto se chama usar a sabedoria para nutrir a serenidade; e quando a sabedoria e a serenidade se combinam para nutrir uma à outra, o padrão de harmonia vem da natureza.
Serenidade e sabedoria são estabilidade e percepção. O padrão de harmonia é a virtude do Caminho. Quando você tem sabedoria mas não a usa, permanecendo pacífico e sereno, depois de alimentá-la durante muito tempo você naturalmente atingirá a virtude do Caminho.
Esta estabilidade é realizada pelo esforço. Pode ser com base em olhar para as vantagens e ver prejuízos, detendo a mente por medo da calamidade, descartando e removendo hábitos acumulados. Seja como for, quando a mente estiver madura você regulará a estabilidade como se isto ocorresse naturalmente. Mesmo um trovão que abala uma montanha não o amedrontará. Espadas desembainhadas poderão cruzar-se diante de seus olhos e ainda assim você nada temerá. Assim você considera a fama e a fortuna transitórias e sabe que nascimento e morte são como feridas inflamadas. Deste modo sabemos que quando exercitamos a vontade unificada solidificamos o espírito; então a abertura e a sutileza da mente são inconcebivelmente grandes.
A mente em si mesma é não-existente, mas na ação ela não é não-existente. Ela é rápida sem ter pressa, chega sem ser chamada. Sua raiva acerta a flecha numa pedra longínqua; seu ressentimento produz gelo no meio do verão. Ceda ao mal e os nove infernos não estarão distantes; acumule o bem e os três céus não estarão longe. Chegando e afastando-se subitamente, os movimentos e a quietude da mente não podem ser descritos. Se sua freqüência está certa ou errada não pode ser percebido por adivinhação. Ela é incomparavelmente mais difícil de domar do que os veados ou os cavalos.
O antigo e sublime mestre usava o bem eterno para libertar as pessoas; elevando o nível do espírito, explicava o inefável. Resumindo as causas e os efeitos dos três veículos, estendeu-se sobre a natureza da miríade de seres. Para uma abordagem gradual ele utilizava a diminuição diária da artificialidade mental; para uma abordagem imediata, usava o retorno experimental para onde não há nada a aprender. Metaforicamente, isto é como desenhar um arco e atingi-lo com uma flecha; o método é o de aplainar as bordas afiadas para resolver complicações.
Se você praticar isto consistentemente, com o hábito isto se tornará natural. Abandone o intelectualismo, controle seu corpo, sente-se esquecido de tudo e, imóvel, em quietude, entre delicadamente em iluminação. Os que tomam caminhos divergentes nunca entenderão o seu significado; os que palmilham esta senda têm a oportunidade de ver o sublime. Isto requer pouco esforço, mas é muito eficaz.
Alcançando o Caminho
O Caminho é algo miraculoso. É eficaz e tem uma essência, contudo é imaterial e não tem forma. Não pode ser conhecido retrospectiva ou prospectivamente, não pode ser procurado por reflexos ou ecos. Ninguém sabe por que ele é assim, porém é assim. O Caminho é compreender totalmente a vida.
Os sábios perfeitos o alcançaram nos tempos antigos; ensinamentos sublimes o transmitem no presente. Se investigar os princípios de acordo com os termos, verá que eles são completamente verídicos. As pessoas superiores acreditam de todo coração; dominam-se e praticam diligentemente, esvaziando suas mentes e abrindo seus espíritos para que apenas o Caminho venha e se concentre.
O Caminho tem profundo poder; ele altera gradualmente o corpo e o espírito. Quando o corpo segue o caminho para compreender e para unir-se totalmente ao espírito, a pessoa é chamada de ser humano espiritual.
A natureza espiritual é não-resistente e fluida; sua essência nunca muda ou perece. Quando o corpo é assimilado ao Caminho, já não há nascimento ou morte. Ocultamente, o corpo é o mesmo que o espírito; quando revelado, o espírito é o mesmo que a energia. Por isso é possível “caminhar sobre a água e o fogo sem ferir-se” e “não lançar sombra mesmo estando sob o sol ou sob a lua”. Permanecer existindo ou desaparecer é sua escolha; pois entra e sai no portal do nada.
O corpo é um resíduo material, contudo pode até atingir sutileza imaterial; quão mais fundo e mais além pode chegar o conhecimento espiritual! Diz a Escritura do Espírito Vital: “Quando o corpo e o espírito estão unidos, este é o verdadeiro corpo.” Diz a Escritura Sobre a Ascensão Ocidental: “É possível viver muito devido à união do corpo com o espírito.”
Contudo, o poder do Caminho da absoluta não-resistência tem diferentes profundidades. Quando ele é mais profundo, afeta também o corpo; quando é superficial, só influencia a mente. Aqueles cujos corpos são afetados são pessoas espirituais; aqueles cujas mentes são influenciadas, obtêm somente uma conscientização inspirada, mas seus corpos não podem escapar da morte.
Por que isto acontece? A percepção interior é uma função da mente; se a mente trabalhar muito, ficará fatigada. Quando você tiver pela primeira vez uma pequena percepção interior, se ficar encantado e falar muito, a energia espiritual escapará, e não haverá renovação espiritual da luz do corpo. Isto provocará em última instância um fim precoce, e assim o Caminho dificilmente poderá ser completado. Isto é o que as escrituras chamam de dissolução do cadáver.
Por isto, as pessoas grandes escondem sua luz e ocultam seu brilho esperando atingir a integralidade. Estabilizando seu espírito, acumulando sua energia, estudam o Caminho e extinguem suas mentes. Quando o espírito se une ao Caminho, isto se chama alcançar o Caminho. Dizem as escrituras: “Os que se integram ao Caminho também alcançam o Caminho.” E diz ainda: “Por que os antigos valorizavam este Caminho? Porque através dele se pode atingir a luz sem uma longa busca e se pode escapar dos erros cometidos.”
Quando existir jade em uma montanha, as plantas e árvores daí não secarão; quando as pessoas adotam o Caminho, seus corpos físicos ficam estabilizados. Quando imersos em sua influência por muito tempo, a constituição física integra-se ao espírito. Quando você purifica o corpo para ter acesso às sutilezas, unindo-se ao Caminho, você dissolve um corpo numa miríade de coisas e funde uma miríade de coisas num corpo.
A iluminação da sabedoria não tem limites, a transcendência física é infindável. Você emprega a totalidade da matéria e do vazio, põe de lado a Criação para realizar o trabalho. A reação autêntica, sem distorção - esta é a virtude do Caminho. Diz A Escritura Sobre a Ascensão Ocidental: “Tenha a mesma mente que o céu mas sem saber disto; tenha o mesmo corpo que o Caminho mas sem distinguir isto. Assim o Caminho do Céu é realizado.”
Quando o espírito não abandona o corpo, ele dura tanto quanto o Caminho. Quando o corpo se integra ao Caminho, ele nunca cessa de existir. Quando a mente se integra ao Caminho, não há nada que ela não compreenda. Quando os ouvidos se integram ao Caminho, não há som que eles não ouçam. Quando os olhos se integram ao Caminho, não há forma que eles não vejam.
A claridade e a eficácia dos seis sentidos provêm disto, mas as mediocridades dos tempos modernos, cuja consciência não tem muito alcance, só ouviram falar sobre a senda da renúncia do corpo e não compreenderam a maravilha do corpo em si mesmo. Sem envergonhar-se de seus próprios defeitos, imitam os erros dos outros. São como insetos de verão que não acreditam no frio e no gelo, ou como besouros numa jarra que rejeitam o céu e a terra. Não é possível chegar até a ignorância deles - como poderiam, então, ser ensinados?
Sentar e esquecer
Instruções Essenciais e Auxiliares
Se você quer cultivar o Caminho e atingir a realização, primeiro livre-se dos comportamentos distorcidos.
Afaste de tal maneira os assuntos externos que não haja nada em sua mente, depois sente ereto e, com atenção acurada, observe internamente.
Logo que notar o surgimento de um pensamento, elimine-o imediatamente; detenha os pensamentos quando surgirem, para tornar sua mente pacífica e calma.
A seguir, mesmo que aparentemente não tenha qualquer obsessão, também devem ser extintos os calmos pensamentos flutuantes, fortuitos e errantes.
Trabalhe dia e noite com dedicação e não desista nem por um momento; mas extinga apenas a mente agitada, não extinga a mente luminosa.
Desapareça na mente vazia; mas não desapareça na mente possessiva.
Não se fixe em coisa alguma e a mente ficará estável.
Este método é misterioso, com benefícios muito profundos. A menos que você já tenha afinidade com o Caminho e possua fé inabalável nele, você não poderá apreciá-lo verdadeiramente.
Mesmo que saiba como recitar os textos, você ainda tem que diferenciar a realidade da artificialidade. Por quê? Porque o som e a forma turvam a mente, as falsidades enganam os ouvidos; a personalidade e o ego tornam-se uma segunda natureza e a doença da auto-afirmação se aprofunda. Quando a mente está separada do Caminho, é difícil compreender os princípios.
Se você deseja retornar ao Caminho supremo, tenha profunda fé e aceite em primeiro lugar os três preceitos. Se você praticar coerentemente do início ao fim de acordo com estes três preceitos, você atingirá o verdadeiro Caminho.
Os três preceitos são:
1. Simplificar os envolvimentos
2. Não ansiar por nada
3. Aquietar a mente
Se você praticar seriamente estes três preceitos, sem fraquejar, mesmo que não tenha a intenção de buscar o Caminho, o Caminho chegará até você por si mesmo.
Diz um texto: “Se as pessoas puderem esvaziar suas mentes e não planejarem nada, elas não desejarão o Caminho, mas o Caminho chegará espontaneamente a elas.”
Nesta base, este método essencial é autenticamente digno de confiança e verdadeiramente valioso.
Contudo, a mente comum é excitável e obstinada e tem sido assim há muito tempo, portanto, na realidade, é muito difícil fazer a mente relaxar por meio de preceitos.
Podemos tentar fazê-la relaxar sem sucesso, e podemos ter êxito temporário e depois fracassar. Na luta para ter êxito, o corpo inteiro fica molhado de suor.
Depois de muito tempo a mente torna-se flexível mas reta; só então ela está completamente sintonizada. Não abandone o trabalho diário apenas porque você está sendo temporariamente incapaz de concentrar ou de controlar sua mente.
Logo que conseguir certa calma, deve conscientemente estabilizá-la o tempo todo, quer esteja caminhando, parado, deitado, ou no meio do burburinho enquanto lida com assuntos e tarefas concretas.
Haja ou não algo importante para você fazer, esteja sempre despreocupado; sua vontade deve permanecer unificada na calma e na agitação.
Se controlar muito intensamente sua mente, a tensão produzirá doença. Acessos de estupidez insana são sintomas disto. Se a mente ficar imóvel, então você deve soltá-la mais, encontrando um ponto intermediário entre o abandono e a intensidade.
Sempre sintonize a si mesmo, controle-se sem obsessão, sendo natural sem ser indulgente. Quando puder estar no meio do clamor sem odiá-lo, e puder lidar com as coisas sem irritação, terá a verdadeira estabilidade.
Contudo, isto não significa que deve querer ficar ocupado só porque pode lidar com as coisas sem irritar-se, ou que grite só porque pode permanecer inabalável no meio do clamor.
A despreocupação é a verdadeira estabilidade, a preocupação é a resposta aos acontecimentos. É como um espelho que reflete as formas de todos e de tudo que esteja ali.
Não importa se isto ocorre mais cedo ou mais tarde, o importante é que você tenha acesso, com hábil aplicação de recursos técnicos, à estabilidade; e que liberte a visão interior. Não procure sofregamente a percepção interior na estabilidade, porque se procurar a percepção interior danificará sua estabilidade e se a danificar não terá esta percepção.
Se a inspiração ocorrer espontaneamente sem ser buscada, ela será a verdadeira percepção interior. Ser inspirado sem tirar proveito disso é a verdadeira sabedoria com a aparência de ignorância, que ressalta as belezas gêmeas da estabilidade e da inspiração sem fim.
Se pensar enquanto estiver num estado estabilizado, você será muito sensível, e demônios e duendes de todo tipo seguirão sua mente e aparecerão. Evidência disto são os fenômenos maravilhosos e sobrenaturais constatados pelas pessoas realizadas e pelos antigos mestres.
Apenas permita que haja uma abertura irrestrita acima da mente estabilizada, e uma vastidão sem uma base fixa abaixo da mente estabilizada. Os velhos hábitos desaparecem, novos hábitos não são criados; livre de tudo e sem obstruções, você sairá da rede do mundo.
Pratique isto por muito tempo e você atingirá naturalmente o Caminho.
Para as pessoas que atingem o Caminho existem cinco tempos mentais e sete fases físicas.
Os cinco tempos mentais são:
1. mais movimento que quietude;
2. tanto movimento quanto quietude;
3. mais quietude que movimento;
4. quietude quando não há nada a fazer, movimento quando algo surge;
5. a mente está unida ao Caminho, e não se mexe nem mesmo sob impacto.
Só quando atinge este último estágio você finalmente alcança a paz; a sujeira do pecado desaparece completamente, e você não tem mais inquietações.
As sete fases físicas são:
1. nossas ações estão de acordo com o ritmo, nossas feições são delicadas e agradáveis;
2. todas as dores físicas desaparecem, o corpo e a mente são leves e saudáveis;
3. os danos da juventude são corrigidos, a base é restaurada e a vida é renovada;
4. o período de vida é expandido por milhares de anos - estas pessoas são chamadas de imortais;
5. o corpo físico é refinado até transformar-se em energia - estas pessoas são chamadas de seres humanos reais;
6. a energia é refinada até poder transformar-se em espírito - estas pessoas são chamadas de seres humanos espirituais;
7. o espírito é refinado até fundir-se com o Caminho - estas pessoas são chamadas de seres humanos aperfeiçoados.
O poder de percepção torna-se mais claro em cada fase, até que esteja totalmente completo quando o derradeiro Caminho for atingido e a percepção intuitiva for alcançada.
Mesmo que tenha praticado a estabilidade por muito tempo, se seu corpo e sua mente não tiverem estes cinco tempos e estas sete fases, você terá uma vida curta num corpo poluído, retornando ao vazio quando a matéria se desintegrar. Se alegar, então, que tem percepção intuitiva ou que atingiu o Caminho, mesmo que em teoria os tenha encontrado, na realidade você não o fez. Certamente terá sido um engano!
Nota
(1) “Abrir os olhos”, aqui, significa envolver-se com o mundo externo. (N. ed. bras.). Voltar.
(Traduzido do inglês por Izar G. Tauceda, membro da Sociedade Teosófica pela, Loja Jehoshua, de Porto Alegre-RS).